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Futebol

Times que fizeram história: O Paraguai de 1998.

Los Guaranies, La Albirroja, berço de jogadores importantíssimos para a história do futebol sul americano, o Paraguai não é detentor de grandes títulos, venceu por duas vezes a Copa América, apenas, mas não é por isso que deixa de ser uma das seleções mais tradicionais do continente.

Com oito participações em mundiais, o Paraguai obteve seu melhor resultado na Copa do Mundo da África do Sul em 2010 quando chegou às quartas-de-final onde foi eliminado pela futura campeã, Espanha, num jogo extremamente duro que terminou com placar de 1×0 para os europeus. Porém, a participação mais famosa do Paraguai em copas não vem do seu melhor resultado em 2010, mas sim da esquadra que parou nas oitavas-de-final da Copa da França em 1998, onde foi eliminada pelos anfitriões no doloroso e infartante gol de ouro na prorrogação. É exatamente desta seleção que iremos tratar neste texto.

Na primeira metade da década de 90 os paraguaios se viram frustrados, pois sua seleção não conseguiu a classificação para as Copas de 1990 e 1994, se via necessária uma reformulação para que a Albirroja voltasse aos mundiais, e essa reformulação começava a acontecer. Mais precisamente no ano de 1992, a seleção paraguaia sub 23 venceu o pré olímpico como anfitriã, apresentando jovens valores que seriam muito importantes para a formação da base de uma seleção forte que apareceria no fim da década de 90 e que levaria o país à quatro Copas do Mundo consecutivas. Entre essas figuras estavam: Gamarra, Arce, Chilavert, Ayala e Cardozo. Ainda em 92, os paraguaios disputaram os jogos olímpicos de Barcelona, onde chegaram até as quartas-de-final, sendo eliminados por Gana, mas o mais importante havia acontecido, a consolidação de alguns destes jogadores na seleção principal do país.

Nas eliminatórias para o mundial de 1998 – este que o Brasil não participou por estar automaticamente classificado por conta do título de 94 – a seleção paraguaia fez um belíssimo papel, terminando a competição com 29 pontos, apenas 1 ponto atrás da toda poderosa Argentina de Batistuta, Verón, Ortega e outros grandes nomes.

Chegando ao mundial, a seleção paraguaia, comandada pelo brasileiro Paulo César Carpegiani levou jogadores já consolidados no futebol sul americano e alguns, inclusive, jogando no futebol europeu, que formaram a seleção paraguaia com a participação mais memorável em Copas do Mundo. Os 23 convocados por Carpegiani foram:

Goleiros: José Luís Chilavert, Danilo Aceval e Ruben Ruiz Diaz;

Defensores: Francisco Arce, Catalino Rivarola, Carlos Gamarra, Celso Ayala, Pedro Sarabia, Ricardo Rojas e Denis Caniza;

Meio-campistas: Edgar Aguilera, Roberto Acuña, Carlos Humberto Paredes, Miguel Ángel Benítez, Julio César Enciso e Carlos Morales Santos;

Atacantes: Julio César Yegros, Aristides Rojas, José Saturnino Cardozo, Hugo Brizuela, Cesar Ramirez e Jorge Luis Campos.

 

Uma das variações táticas usadas por Carpegiani na seleção paraguaia.

O time jogava predominantemente numa formação 5-3-2 mas que dependendo da necessidade virava um 3-5-2, onde possuía um sistema defensivo extremamente forte, nada fácil de ser furado e que foi o principal motivo pelo qual a equipe ficou conhecida naquele mundial. Os paraguaios jogavam com uma disposição e uma concentração gigantescas, extremamente fiéis aos conceitos táticos propostos e com jogadores que viviam o melhor de suas carreiras.

Os dois primeiros jogos da equipe mostraram exatamente a força do sistema defensivo, dois empates em 0x0 contra a Bulgária que já não era a mesma força da copa anterior e contra a favorita Espanha. Com isso, os guaranís chegaram ao último jogo da fase de grupos precisando de uma vitória contra a já classificada Nigéria para não depender do resultado do jogo entre Espanha e Bulgária, e foi o que aconteceu. O Paraguai venceu a Nigéria por 3×1 com gols de Ayala, Benítez e Cardozo, se classificando em segundo do grupo, deixando a Espanha de fora, mesmo com a goleada dos espanhóis por 6×1 para cima dos búlgaros, que no fim das contas não teve utilidade alguma.

Já se esperava que os dois classificados deste grupo teriam ingrata missão nas oitavas-de-final, contra os franceses donos da casa ou contra a forte seleção dinamarquesa, e assim se confirmou, a Nigéria defrontou a Dinamarca enquanto o Paraguai ficou encarregado de tentar segurar Les Bleus.

A batalha de Lens: França x Paraguai, 28 de junho de 1998

Num dos jogos mais emocionantes da Copa, França e Paraguai se enfrentaram buscando uma vaga nas quartas-de-final. Os anfitriões não contavam com Zidane que cumpria suspensão de dois jogos, o que poderia ser um alento para a esquadra guaraní. O jogo foi carregado de tensão desde o começo, e a seleção paraguaia se segurava da maneira que podia, as vezes até recuada demais, mas fazia o que era necessário para não ter sua meta vazada. Os franceses por sua vez, sabiam também que a tarefa era árdua, o treinador Aime Jacquet apostou na juventude das revelações Thierry Henry e David Trezeguet no ataque, mas nada parecia dar certo. Ao mesmo tempo, os Bleus se preocupavam em não fazer faltas próximas a área, pois sabiam da qualidade do arqueiro Chilavert nos tiros livres. Gamarra, um dos grandes nomes da albirroja, deslocou a clavícula no segundo tempo e mesmo assim continuou em campo, o que deu contornos ainda mais dramáticos à partida.

Já no segundo tempo da prorrogação, aos 8 minutos, o zagueiro francês Laurent Blanc viu a bola cair na sua frente dentro da área, e fez o primeiro gol de ouro da história das copas, eliminando o conjunto paraguaio de uma forma extremamente cruel e que com certeza dói até hoje nos jogadores e na torcida guaraní.

O Paraguai caiu, mas de cabeça erguida, vendendo extremamente caro a derrota. A participação da Albirroja na copa foi tão bem sucedida que o goleiro Chilavert e os zagueiros Gamarra e Ayala foram escolhidos para a seleção do torneio. Outra curiosidade, é que Carlos Gamarra, dono de um dos desarmes mais cirúrgicos do futebol mundial, terminou a copa sem fazer uma falta sequer, evidenciando toda a sua técnica e lealdade na marcação dos adversários.

O Paraguai ainda foi à outros três mundiais de maneira consecutiva (2002, 2006 e 2010), como dito no início do texto, a melhor participação paraguaia foi em 2010 na Copa da África do Sul, porém a seleção de 1998 ficará guardada na memória de todos os paraguaios e amantes do futebol como uma das seleções que fizeram história, mesmo sem chegar tão longe. Por isso, o Paraguai de 1998 foi um time que fez história.

Tags : copa do mundoCopa do Mundo de 1998FrançahistóriaParaguai
João Ricardo

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