Sempre houve apreço pelo futebol vistoso. Quem é que não gosta de ver tabelas, uma troca de passe criativa, movimentação, futebol ofensivo? Creio que todos os que consomem o futebol de alguma forma ou trabalham nele apreciam esse tipo de jogo, mesmo aqueles que também são fãs de um belo sistema defensivo intransponível, como eu. Aquele time que você tem a sensação de que não vai tomar gols mesmo que jogue por dias, e quando menos se espera, espeta uma bola e surpreende fazendo o gol da vitória, ou mesmo quando não faz. A beleza pode estar no atacar e no defender, pois beleza é subjetivo, é particular, e o que é feio para fulano pode ser bonito para beltrano.
Tenho percebido que atualmente virou quase uma obrigação jogar de maneira vistosa, caso contrário o futebol está morrendo, ou é injusto. Ora, o futebol sempre foi assim, talvez seja o esporte que tenha mais formas diferentes de se jogar e se portar em campo e é isso que o torna tão maravilhoso, tão imprevisível e acabar com essa característica sim, mataria o futebol.
É necessário dizer que, tive a decisão de escrever este texto após o jogo entre Santos e Corinthians pelas semifinais do Campeonato Paulista, e principalmente após ler e ouvir diversos comentários de torcedores e jornalistas dizendo que “o anti futebol venceu”, “o futebol morreu nesse jogo”, “esse tipo de postura do Corinthians não é boa para o futebol” e “enquanto isso não mudar nunca mais ganharemos uma copa do mundo, “a classificação foi injusta”, exemplos não faltam.
Primeiro que a classificação não foi injusta porque foram dois jogos, e no primeiro o Corinthians foi superior e venceu, assim como o Santos fez no segundo jogo; segundo que não é novidade pra ninguém um time vencer o jogo de ida e se portar de maneira extremamente defensiva na volta; terceiro que, se um time chuta 25 bolas no gol e faz apenas um, ele não foi muito efetivo, não é mesmo? Logo o argumento da justiça pode muito bem cair por terra; quarto que não se nota uma análise sobre como o Santos se portou e encurralou o Corinthians e apenas na retranca corinthiana, com o adendo de que Fabio Carille disse não ter treinado dessa forma e que esperava uma postura melhor, mas o time não conseguiu sair da pressão; e quinto que a postura do Corinthians nesse jogo não tem nada a ver com ser bom ou não para o futebol, ou para a seleção brasileira como muitos disseram.
O buraco é bem mais embaixo e existem uma infinidade de problemas que influenciam no futebol da seleção. Deschamps levou a França ao título mundial com um time repleto de craques e um futebol burocrático; Simeone chegou a finais da Champions League e venceu uma liga com um futebol pautado no sistema defensivo, e estes são exaltados, e veja bem, estou falando de modelos de jogo diferentes e que não primaram pelo encanto e pelo brilho. Nem todos serão um Guardiola ou um Jürgen Klopp, e isso não é demérito, essa obrigação não deve haver. A busca por um futebol melhor deve existir, mas um futebol melhor sem amarras e que dê espaço às mais variadas ideias de jogo.
Outro fato que me incomoda muito é dizer que o torcedor deve cobrar esse tipo de postura em campo, dizer que o mesmo deve ficar triste caso o time vença jogando um futebol ruim. Como disse antes, todos gostam de futebol bem jogado, mas futebol também é competição, também é rivalidade. Torcedor é passional, se o time vencer e der espetáculo, maravilhoso, se vencer e jogar “feio”, ótimo vamos comemorar também. O futebol é maravilhoso em todas as suas facetas e restringir a beleza deste esporte à um modelo de jogo é muito raso.
Por mais Guardiolas, Klopps, Pochettinos, Sampaolis, Simeones e Carilles. O futebol é enorme, é amplo e nele cabe de tudo. Vamos aproveitar. Esse é o jogo.