Quem nunca ouviu falar em Carlos Drummond de Andrade, poeta, cronista, grande nome do modernismo brasileiro, dispensa comentários. Um de seus poemas mais conhecidos, “José”, publicado em 1942, conta o sentimento de solidão de um homem na cidade, onde o mesmo parece perdido na vida sem saber o que fazer, para onde ir, que rumo tomar. Mas onde a Copa do Mundo entra?
Pois bem, com toda a capacidade que possuo (risos), diante do sentimento de vazio que ocupa o peito de todas as pessoas apaixonadas por futebol com o fim da Copa do Mundo de 2018, resolvi criar a minha versão deste famoso poema:
José sem copa
E agora, José?
A copa acabou,
A luz apagou,
O povo sumiu,
O nada chegou
E agora, José?
E agora, você?
você que é sem copa
que não aguenta o nível do nosso campeonato,
mas que ama seu time, claro
você que adora falar
que ama, reclama? Pra quem?
E agora, José?
Está sem a copa,
sem onde se apoiar,
está sem os afagos dos três jogos ao dia,
já não existem as mesas redondas a qualquer hora,
já não pode deixar de trabalhar para ver a sua seleção,
já não pode falar de futebol todo o tempo sem parecer um bitolado,
nada disso,
a escuridão chegou,
o dia demora,
e a próxima copa não vem,
seu riso não veio,
não veio o êxtase, a loucura,
tudo acabou,
todos foram embora,
a bebida esquentou,
os petiscos estragaram,
e agora, José?
Com o controle remoto na mão,
quer ligar a TV,
não existe mais copa, não adianta,
quer morrer no sofá,
o mar de grandes jogos secou,
queri ir pra Russia, pra que?
Não há mais copa lá.
José, e agora?
Sozinho no escuro do quarto,
Qual bicho-do-mato,
sem motivo,
sem sustento,
sem saber qual jogo escolher do nosso belo campeonato,
o campeonato em que se fala e faz de tudo,
menos o verdadeiro futebol, o essencial,
assim você segue sedento por copa, José,
até se acostumar novamente,
e assim você tentar seguir em frente
José, para onde?
Catar?
A quem interessar, a obra da qual falo pode ser lida aqui: https://www.culturagenial.com/poema-e-agora-jose-carlos-drummond-de-andrade/